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quarta-feira, 26 de março de 2014

Homens na Dança do Ventre

 Por Fran Braga Bagoas_by_theband‘‘Preconceito é um fardo que confunde o passado, ameaça o futuro e torna o presente inacessível.’’ Maya Angelou
Este é um assunto um tanto quanto polêmico e carregado de preconceitos, justamente por isto eu resolvi falar sobre ele! Eu sabia que ia aprender muita coisa estudando para esta publicação no blog, mas não imaginava que ia me deparar com tantos aspectos conflituosos, dentre os quais listei algumas palavras-chave para representá-los: sexismo; machismo; colonialismo, racismo; ausência do reconhecimento da arte, ausência de estudos e conhecimentos prévios, doutrina.
Busquei por estudos para tratar os aspectos listados acima  no texto a seguir! Espero que gostem e reflitam!
Depois de ler inúmeros comentários sem embasamento do tipo: ‘‘esta arte é unicamente privilégio de nós mulheres, pois somos nós que temos ventre e acho que homem nenhum deve dançá-la já que somente nós mulheres temos a dádiva divina de gerar uma vida em nosso ventre, por tanto sou contra!”
Em primeiro lugar acho importante esclarecer o conceito de ventre, que, de acordo com o dicionário Aurélio, define-se como:
s.m. Parte do corpo onde estão alojados o estômago, o intestino, o fígado, o pâncreas, a bexiga etc.; abdome, barriga. / O útero: ventre materno. / Fig. Parte central; âmago: ventre da terra. / Anatomia. Parte média e mais ou menos volumosa de certos músculos. / Física. Num sistema de ondas estacionárias, ponto de alongamento máximo. // Prisão de ventre, dificuldade na defecação; constipação intestinal. // Soltura de ventre, diarréia.
Ou seja: homem também tem ventre!
Outra frase que encontrei e acho importante trazermos para discussão é a seguinte: ”sou contra homem dançando DV sim, sou de família egípcia, tenho 11 irmãos e nenhum deles concordam com homens na dança do ventre. Somos contra qualquer modernismo que venha atrapalhar os nossos costumes ou invadir e estragar a nossa linda e maravilhosa cultura, a nossa história e tradição. Não existe homem na dança do ventre e nunca existiu! isso é modernismo gay.’’
Frase um tanto quanto sexista, não?!
Para esclarecê-la melhor trouxe a definição de Dança do Ventre apresentada por Anthony Shay no artigo de Cínthia Nepomuceno Xavier: ‘‘é uma dança solo, praticada por homens e mulheres, caracterizada pelas articulações do torso, especialmente os ombros e quadris, utilizando variados gêneros musicais e denominações. A elaboração da performance irá depender das habilidades de quem dança e do contexto, social e econômico, no qual é apresentada”


Diferentemente do que muitas pessoas dizem os homens dançavam e dançam dança do ventre tradicionalmente sim e, além disto, muitos dos movimentos que nós temos hoje na DV foram originados pelos homens. Por exemplo, movimentos de braços que eram feitos por homens nas danças de corte, se originaram a partir de uma forma de cumprimento suave feito pelos próprios homens árabes, e hoje em dia passaram a ser considerados movimentos femininos. Há também registro de homens dançando DV como uma homenagem aos deuses, pelas colheitas e pela prosperidade.
No PODCAST #19 (O Homem e a Dança) do site Sala de Dança, em entrevista com Lulu from Brasil, foi apresentado que encontra-se litografias que mostram homens dançando desde o século XIV. ”Encontrávamos bailarinos no Líbano, na Síria, na Turquia, na Pércia e eles também eram numerosos no Egito, até que um califa no Cairo, proclamou que eles eram foras da lei durante a invasão de Napoleão” disse Lulu. Este mesmo califa costurou mais de 300 dançarinas em um saco e as atirou no rio Nilo, porque um general francês disse que a existência delas era ofensiva. Mais tarde um Pacha exilou todas as dançarinas públicas para regiões do Egito que ainda hoje tem famílias ghawazee, para ‘’limpar’’ o Cairo antes da chegada dos ingleses.
Então, pós- colonialismo, muitos profissionais, homens e mulheres, perderam sua posição, porque estes lugares passaram a servir para agradar a nova sociedade emergente que era de europeus ou de pessoas que queriam se aproximar dos europeus. E o que eles queriam ver? Eles queriam ver bailarinas luxuosas com características europeias, ou seja com pele mais clara, cabelo liso. Escrevendo este trecho da pesquisa, me lembrei do texto escrito por minha amiga Maristela Rosa, que fala sobre a mulher negra na DV, onde ela coloca no ar a seguinte pergunta: de onde veio o padrão mulher branca com cabelo longo e liso na DV?
Tais europeus também diziam que os movimentos das ghawazee eram exagerados e bruscos, e não movimentos femininos.
Antes esta manifestação em forma de movimento era de todo mundo, mas os povos absorveram este racismo e sexismo dos europeus e os manteve até hoje. Então em muitos países africanos, onde tudo indica que a dança do ventre surgiu, homens e mulheres não podem mais se apresentar como faziam antes da colonização, agora o lugar é das mulheres de pele mais clara, que muitas vezes utilizam trajes que não são os tradicionais. Eu também me lembrei durante este estudo do post publicado por Carol Alzei, que fala sobre o preconceito enfrentado pelas mulheres que dançam no Cairo e apresenta, por exemplo, a Dina como uma das que consegue realizar seu trabalho de forma mais livre.
Cíthia Nepomuceno Xavier fala em seu estudo “…5, 6, 7, ∞… Do Oito ao Infinito: por uma dança sem ventre, performática, híbrida, impertinente” (2006) que quando esteve no Egito para realizar sua pesquisa de campo, encontrou muito mais homens que dançavam esse estilo de dança do que mulheres.
tito‘‘(…)E dançavam com roupas comuns do dia a dia, comemorando uma partida de futebol bem sucedida, aparecendo nos videoclipes da televisão interpretando conquistas com seus movimentos de quadris, dançando na privacidade do lar com seus familiares como forma de demonstrar alegria ou nas boates, executando exatamente os mesmos passos que eu aprendi em sala de aula.’’
Neste mesmo estudo, a autora demonstra que Para Anthony Shay a negação da dança do ventre masculina está relacionada ao período de dominação francesa e, principalmente, britânica que transformaram as mentalidades do povo egípcio, como já foi dito anteriormente .
Outros preconceitos OCIDENTAIS é a crença de que um homem hetero nunca dançaria a DV, e que caso ele dança-se ele seria homossexual. Independentemente de ser ou não, isto é motivo de gozação por parte muitas pessoas e por este preconceito muitos homens decidiram não se profissionalizar, o que inibiu muitos homens de praticar a dança até mesmo em seu próprio país.
Outra explicação para abordar porque nós somos tão preconceituosos, é a ausência da flexibilidade para se entender as diferenças entre os povos, na entrevista para o PODCAST, por exemplo, Lulu cita o que os portugueses fizeram com os índios do Brasil, de forma que hoje em dia nós conhecemos muito pouco sobre a dança, a linguagem e a cultura dos povos originais de nosso país, além de que muitos de nós olhamos para a cultura indígena ainda existente criticando suas vestes e modo de viver, mas não paramos para pensar que tudo isto partiu de conceitos trazidos pelos portugueses! E o que os britânicos fizeram no Egito foi nesta mesma linha de raciocínio.
Ainda neste PODCAST, Celia Daniele completa que haviam homens que dançavam, mas eles não eram o que chamamos de gays. No mundo árabe medieval, havia a noção de um terceiro gênero, que é o khanith, que são os homens afeminados, e eles eram aceitos na sociedade, a diferença era a relação sexual que não deveria ser consumada. Durante muitos períodos da história islâmica, as relações homoeróticas eram permitidas, desde que o passivo da relação fosse um efebo (pré-adolescente), porque era considerado como se ele não fosse um homem de verdade. Os dançarinos podiam dançar como mulheres, mas não terem relações sexuais ou qualquer conotação sexual em sua dança.
Essa visão sexualizada da dança do ventre vem com a presença europeia. Em Nosharéns, na Era de Ouro do Islã Clássico, homens e mulheres também dançavam. A sua atividade não era com fins sexuais (claro que existiam exceções, vide o poeta árabe gay Abu Nuwas), mas para entretenimento. Um dançarino era tão valorizado quanto uma dançarina, e muitas vezes, nos grupos onde havia certa misoginia e conservadorismo, não havia dançarinas, apenas homens dançando.
A partir do séc. XIII do calendário cristão, começou a haver um certo declínio da produção filosófica no mundo árabe, o conservadorismo se exacerbou, as mulheres começaram a ser relegadas em segundo plano, a ponto de ignorarem sua sexualidade, e aos homens foi exigido um modelo machista que resiste até hoje, não só entre os orientais, mas entre os ocidentais também. Dança do ventre passou a ser prática de sharmuta, e homens dançarinos do ventre passaram a ser vistos como pervertidos. Se olharmos para a dança como entretenimento, da mesma forma que nos séc. IX ao XII veremos que os homens dançavam para divertir as pessoas e não para realizar fantasias sexuais!
A presença masculina na dança do ventre é um tabu OCIDENTAL, não oriental, que deve ser quebrado! Se você não gosta, não assista, mas respeite! Hoje em dia vários homens dançam muito bem, sendo muito melhores do que muitas as mulheres em técnica e desenvoltura. O que deve nos encantar são danças com qualidade e não o gênero de quem está dançando. Quanto as roupas, muitas dançarinas criticam as roupas que alguns homens usam em sua apresentação, mas roupas bizarras são usadas tanto por alguns homens, quanto por algumas mulheres e nós não devemos estereotipar isto.544733_4837228288299_2080741901_n
O que é dançar? A dança é a expressão da alma!



Fonte CÍNTHIA NEPOMUCENO XAVIER. (2006). …5, 6, 7, ∞… Do Oito ao Infinito: por uma dança sem ventre, performática, híbrida, impertinente. Brasília.
Dança do Ventre Masculina: <http://dainur.blogspot.com/2009/09/danca-do-ventre-masculina.html> Acesso em 12-04-13
Homens na Dança do Ventre: Fim dos Tempos?: <http://www.dancadoventrebrasil.com/2009/11/homens-na-danca-do-ventre-fim-dos.html> Acesso em 12-04-13
PODCAST #19 – O Homem e a Dança:<http://www.saladedanca.com.br/podcast-no-19-o-homem-e-a-danca/> Acesso em 12-04-13
Soares, M. J. (2009). EROTICA SEM VEU: O CORPOREO-SEXUAL NA SOCIEDADE ARABE-ISLAMICA CLASSICA (SECULO XII-XIII). São Paulo.
Retirado do Blog: http://grupokaliladv.wordpress.com/para-refletir/homens-na-danca-do-ventre/comment-page-1/#comment-14

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Mona El Said - um mito na história da Dança Oriental


None de nascimento - Monah Ibrahim Wafa

Oriunda da Egito, de onde saiu com apenas 13 anos já como bailarina, fugindo para o Líbano em 1970 devia á ira e ideias conservadoras do seu pai. Aqui torna-se bailarina profissional e muito famosa fazendo atuações nas mais famosas e elegantes casas noturnas em Beirute como - Atresh farid el'snight club -. Com um estilo muito próprio de dança, com coreografias precisas movimentos lineares que correspondiam perfeitamente com a música. Mona el said tentava demonstrar em cada atuação a sua emoção da música com muitos movimentos inovadores provocando uma enorme magia em palco. A bailarina Tahiya Carioca apelidou-a como " a princesa do Raks Sharki", na mesma altura em que os tabloides libaneses a batizaram como " o bronze do nilo " -- "El sa'mraa nilo" 

Em 1975 regressa ao cairo como estrela Bellydance fazendo atuações nos mais conceituados hotéis e clubes noturnos da região. Sempre acompanhada com uma enorme orquestra e de vários bailarinos de renome na nossa atualidade como Fifi Abdou, Nagua Fouad, Nelli Fouad, Hanan e Nadia fouad. Casou sete vezes e realizou muitos filmes sete dos quais como atriz principal. Com o seu estilo distinto fez dela uma das maiores bailarinas da dança do ventre do seculo XX.
Deu muitas oficinas de dança pelo mundo fora mas principalmente nos E.U.A e Reino Unido. Mona foi uma das treinadoras de dança do grupo americano -Bellydance Superstars-. Vive atualmente no cairo.


Mona ficou na história pela sua postura em palco como também pela sua elegância e glamour. Quando pensamos em moda de Bellydance, Mona é uma das maiores pioneiras. 

Já esteve no Brasil na IV Conferência Internacional Luxor no primeiro semestre de 2006. Evento no qual ministrou workshops e se apresentou no Show de Gala. Como resultado deste trabalho foi lançado no Brasil o DVD “Show Ao Vivo Monah Said”.


Sua dança expressa forte interpretação e emoção aliadas à técnica. Seus movimentos são delicados e pequenos, fugindo aos exageros. Uma autêntica dança egípcia.

Confira um pouco sobre esta diva da Dança Oriental:




Vaslav Nijinski


Wacław Niżyński, (em polaco, Vatslav Fomitch Nijinski, em russo - no cirílico, Вацлав Фомич Нижинский,
(Kiev, 12 de Março de1890 — Londres, 8 de abril de 1950) - foi um bailarino e coreógrafo russo de origem polaca.
Considerado um dos maiores bailarinos de seu tempo, viveu a dança desde muito cedo, pois era filho de bailarinos poloneses, que se apresentavam em teatros e circos. Dançando nas apresentações de seus pais, atuou desde o quatro anos de idade.


Após seu pai ter abandonado a família, mudou-se com sua mãe para São Petersburgo, na Rússia. Com dez anos de idade, iniciou seus estudos em dança na escola de balé do Teatro Imperial. Aos dezoito anos foi o par da bailarina Anna Pavlova. No ano seguinte, em 1909, viajou para Paris com a companhia de balé de Sergei Diaghilev, na qual obteve reconhecimento internacional.


Deus da dança

Para os críticos, Nijinski era dotado de uma técnica extraordinária. Por isso, foi chamado por muitos como o deus da dança, a oitava maravilha do mundo e o Vestris do Norte (referência ao bailarino francês Auguste Vestris, junto ao qual seria sepultado, no cemitério de Montmartre, em Paris). Nijinski revolucionou o balé no início do século XX, conciliando sua técnica com um poder de sedução da plateia, os seus saltos pareciam desafiar a lei da gravidade.

Com coreografias de Fokine, dançou: Silfides, Petrushka, Sherazade, Espectro da Rosa entre outros. Como coreógrafo, Nijinski era considerado ousado e original, sendo atribuído a ele o início da dança moderna. Uma de suas coreografias mais polêmicas foiL'Aprés-Midi d'un Faune, com música de Debussy, vaiada em sua estréia, em 1912. Outras muito conhecidas foram A Sagração da Primavera e Till Eulenspiegel.


Da paixão à loucura

O relacionamento com Diaghilev ficou bastante abalado quando Nijinski se apaixonou pela bailarina Romola de Pulszkie se casou com ela, em 1913, em Buenos Aires. Por uns tempos, foi afastado do grupo, voltando a fazer parte da companhia em 1916, nos Estados Unidos.
Em 1919, aos 29 anos, acometido por distúrbio mental (esquizofrenia), abandonou os palcos. A esquizofenia do bailarino caracterizava-se, sobretudo pela desordem de pensamento. Essa marca é bastante evidente em trechos de seus diários: "Tenho uma copeira seca, porque sente. Ela pensa muito, porque foi dessecada no outro lugar onde ela serviu por muito tempo". Seu impressionante diário, escrito em 1919, foi publicado por Romola de Pulszki em 1936. Entretanto, nessa versão, Romola eliminou um terço dos textos originais, suprimindo todos os versos e vários trechos com passagens eróticas.
Nijinski passou por inúmeras clínicas psiquiátricas até completar os 60 anos. Morreu em uma clínica em Londres, em 8 de abril de1950. Somente em 1995 uma edição integral dos originais de seu diário foi publicada na França, pela editora Actes Sud, graças ao consentimento da filha de Nijinski, Tamara.

(Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.)

Por quê dançar?



Dançar é um alimento para a alma, um alento para o espírito!
Dançar traz alegria. A verdadeira alegria de poder reconhecer e expressar, de forma simples e direta, os anseios da alma.

Dançar nos restitui os laços perdidos com nossa própria essência. Isso realmente acontece quando nos entregamos ao seu movimento como uma onda que brota espontaneamente, de uma fonte que não é racional, nem esteticamente premeditada.
Podemos fazer uso das suas técnicas – podemos nos identificar mais ou menos com esta ou aquela tendência estética - do balé clássico à dança contemporânea – mas o que realmente interessa, é quando deixamos que o movimento expresse livremente algo que é único em cada um de nós. Nesse sentido, quando proponho a dança espontânea, é privilegiando a expressão realmente criativa de alguém que tem uma história única para contar.

Nesse sentido, a dança se abre como um caminho maravilhoso para o auto-conhecimento.
Através de exercícios de sensibilização, expressão, interação e consciência corporal, entramos em contato com nossos próprios bloqueios, herdados de uma educação e cultura voltados para a praticidade de um mundo cada vez mais alienado de nossas necessidades anímicas. Assim, aprendemos a reconhecer nossas próprias limitações, a nos libertarmos dos condicionamentos e padrões indesejados, aqueles que negam a nossa verdadeira essência e o exercício do nosso potencial criativo.

Com a dança espontânea eu proponho um caminho de retorno de cada um consigo mesmo. Eu proponho uma descoberta. Eu proponho uma viagem, que pode começar pela percepção e refinamento dos sentidos, adentrar nas paisagens coloridas das emoções, encontrar o seu ritmo na respiração e, da integridade dos gestos, nascer uma verdadeira fonte de inspiração e renovação.

(Sônia Imenes)